Sunday, November 12, 2006

DESEJOS PARA UMA VIDA NOVA!!!!


Pensei em escrever alguma coisa legal que fugisse aos clichês e jargões tradicionais que todos se desejam no Natal e na passagem de ano. Procurei textos que não tivessem sido escritos com esse propósito. Procurei neles algo que não se diz com freqüência, algo que ficou esquecido em uma página amarelada de uma raridade escrita em séculos adormecidos nos livros de história. Não encontrei nada muito original, já que quase tudo que há pra se dizer, às vezes, parece que já foi dito no começo da história da qual diariamente somos protagonistas, personagens que co-habitam em cada parágrafo do livro que nós conhecemos apenas pelo nome de Livro da Vida.
Nesse ano em que está em via de dar os primeiros passos, mais um de uma série de aniversários, de festas, de provas, de alegrias e tristezas sucessivas, tudo isso a que aprendemos a chamar de cotidiano ou ciclo da vida, desejo que voe ame, e que seja amado(a), e que caso isso não aconteça, que você tenha a paciência que a felicidade exige de todos que a aguardam.
Desejo que você seja feliz, que sorria, que cante, que vibre com o surgimento da vida. Que aprenda a observar as pequenas coisas que são de uma imensurável beleza, a exemplo disso posso lhe mostrar um sorriso de criança, um pôr-do-sol, um Ipê florido, uma arvore com fruto, a chuva que cai, a noite que vem, a imensidão silenciosa do mar, o deserto da duna que se parece com nossa alma.
Em tempo, desejo que você sofra, que perca e que se entristeça. Algumas privações são necessárias para que se possa valorizar melhor a vitória posterior. O sofrimento nos faz reconhecer nossa condição de humano e como tal, a consciência de ser imperfeito e de estar em constante aperfeiçoamento, isso lhe faz assimilar melhor o seu novo aniversário e um fato nada novo em sua vida, voce está envelhecendo; envelhecendo, não, está chegando à beira da perfeição, da calma, da paz interior. Está mais próximo da força que deu origem a tudo, o verbo que habitou em nós e lhe presenteou com o mais belo dos presentes, a sabedoria plena da vida e do amor.
Desejo a você calma, paciência e perseverança. Como você já sabe, uma nova maratona se inicia, ela é longa, e dura uma vida inteira sem pausa. E em sua corrida diária, muitas vezes solitária, esses elementos, do meu desejo, serão necessários ao fortalecimento dos seus músculos e a manutenção do seu tão belo sorriso. que nenhum fato desagradável deve manchá-lo ou torná-lo menos radiante, pois a vitória se esconde em gestos simples que nem todos parecem ver. Desejo que no final de mais uma maratona, os louros da vitória encontrem o seu lugar, em sua cabeça.
Desejo que todos os artigos do Estatuto do homem, Ato institucional Permanente, enviado a Carlos Heitor Cony, sejam-lhe respeitados na sua condição de pessoa, que cada artigo lhe vista como uma luva. Nele versa o seguinte:

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade
agora vale a vida,e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
tem direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
Duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor

sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá a planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal do seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e sua morada será sempre
o coração do homem.

Desejo que você perceba o verdadeiro sentido de um ano novo, que reflita, pois algo novo acaba de nascer em você, aquele você do ano passado não existirá mais. Lembra-se de que tudo muda? Pois é! O que existe a partir de agora é o NOVO. Acabamos de receber a chance de recomeçarmos a vida, de replanejar tudo que não deu certo, de repensar os erros, de procurar os acertos e de sentir que não somos super-homens, que não podemos sozinhos com o peso do mundo em nossos ombros. Que não podemos combater sozinhos os males do mundo; de ver que existimos como indivíduos e como tal, temos nossa identidade e nossa vida pessoal, nossas escolhas, as quais temos de amar e de respeitar, de vivê-las e seguir sonhando para não envelhecermos completamente!!!
Desejo que não enxergue apenas o valor do presente, mas antes de tudo o carinho e o valor emocional de quem está lhe dando aquele presente...
Desejo que você encontre um sentido pra sua vida. Que a seta dos seus desejos encontre o seu alvo. Desejo que você sinta fome, e que essa fome nunca, de forma alguma, seja saciada, pois se isso acontecer, sua razão de existir deixa de habitar em seu interior e você passa a se tornar uma pessoa triste e amargurada.
Desejo que jamais você deixe de sonhar, deixe de brincar, que em momento algum, sua porção criança envelheça e o(a) torne um(a) adulto(a) chato(a) e ranzinza. Desejo que aprenda a pedir desculpas, e que mais difícil que isso, aprenda a perdoar não apenas por educação, mas por que você chegou ao conhecimento pleno do que se passou entre você e o causador do problema, e se descobrir que foi o causador do mal estar entre vocês, dê o passo mais difícil para o homem moderno: seja humilde, admita seu erro e peça desculpas.
Desejo que a paixão jamais lhe cegue e que se cegar, o amor daqueles que sempre lhe rodearam sirva de colírio. Desejo que as noites em claro que você passar, lhe sirvam de reflexão, desejo acima de tudo que todos os seus desejos e não apenas as coisas que aqui falo se tornem uma vontade do espírito santo, aquela ave que não se encontra presa em igreja ou livro algum, senão dentro de você que é um templo universal onde o verbo habitou no principio e nunca deixou de estar... E que todas as fadas, duendes e criaturas mágicas digam amém, a essa sua nova vida, a esse novo você.
Resumo todos esses desejos em dois, que você aprenda que o “ter” jamais deve superar o SER, e que a ostentação só conduz aos excessos, e que esses conduzem apenas a infelicidade. Sendo assim desejo que aprenda a equilibrar os seus sonhos e seja feliz. Um feliz Natal e uma excepcional vida nova!!!
Fredson...

SIGO COM A FORÇA DOS MEUS ORIXÁS!!!

Com a força dos meus Orixás eu sigo em meu caminho, tenho teu nome escrito em meu patuá. No escapulário amarrado ao meu pulso trago a imagem de Cristo e Oxalá, como o Yin e o Yang. Sigo assim o meu caminho em direção ao desconhecido, a falta de lógica do absurdo, sigo na direção que a estrada me conduz sem perguntar o porquê, apenas seguindo.
Sigo sem medo ou com todos os medos conjugados em meus olhos castanhos protegidos pelos vidros que fazem minha miopia diminuir. Só sei que sigo... Mesmo sem saber quem sou. Eu sigo. Mas quem sou eu? Seria eu apenas uma projeção daquilo que vejo na Vênus que fica exposta em um altar em frente à sala de jantar?
Que caminho devo seguir? O caminho das pedras ou o caminho das placas? Talvez eu deva seguir e apenas, e deixar que meus passos me conduzam, vou apenas andar, olhar à direita e à esquerda e em frente como fazia o guardador de rebanhos. Sem me esquecer de me dar o pasmem que a vida exige de quem não quer cair na monotonia, ou então, quer fugir dela.
Vou sentir o cheiro das flores, sentir o vento tocar o meu rosto, comer a fruta caída da árvore, como em um ritual Oriental.
Quero sentar-me diante de um rio e ficar em silêncio. Ouvindo o som do meu coração batendo assistindo a guerra que dentro de mim se trava, o homem moderno quer voltar à civilização que ele conhece, aos seus livros de cálculo, suas máquinas, sua tevê, seu dvd, seus discos novos, de novos sucessos descartáveis, sua vida medíocre em que ele não se sabe quem domina quem, se o homem domina o metal ou se o vil metal domina a criatura que se orgulha de se denominar de ser humano, falta-lhe humildade para consultar o dicionário. O homem humilde quer permanecer e encontrar-se a si mesmo novamente para ficar em paz. É um luta muito igual, eu apenas assisto-a esperando quem vai vencê-la.
Não lembro meu nome. E isso não vem muito ao caso, meu nome poderia ser árvore, poderia ser vento ou mesmo chuva, poderia ser Jesus, poderia ser Francisco. Quem sou ou quem querem que eu seja: um homem moderno, que faz contabilidades ao invés de sentir, que calcula ao invés de sonhar, é disso que fujo. Busco a simplicidade de um sorriso, de uma conversa jogada fora sem a pressão do relógio de pulso. Permito-me ainda ser pressionado pelo relógio biológico, pois a fome ainda quero senti-la.
Fome de tudo, de vida, de arte, de paz, de poesia, daquela que senta ao meu lado e me sorri nos momentos difíceis, que me ajuda a carregar o peso que o mundo quer jogar em meus ombros, não sou herdeiro da cruz, sou herdeiro de uma geração que nega, mas termina crendo. Mas quero fugir do homem que nega a criança que há dentro de si. Que nega ao sonhador que luta por um mundo melhor e mais justo o direito a uma revanche que todos têm em uma vida como a que levamos. Quero despistar o homem que não aprendeu com o filho do Homem a amar ao próximo como a si mesmo.
Vou esquecer o meu lenço, não vou chorar durante essa caminhada a que me proponho, e se chorar o vento quente secará minhas lágrimas ou então elas se misturarão ao suor que escorre do meu rosto. Meus pés vão encontrar o solo do qual há muito se afastou. Meus documentos vão ficar na minha carteira, juntamente com os meus cartões de crédito, e o dinheiro que tenho, aquele não sou eu. Ou melhor, aquilo é o resto do que fui. Não farei mais parte daqueles que contribuem para o falso crescimento do país, daqueles que contribuem para a riqueza esperta de uma minoria que nos rouba noite e dia, informação de ultima hora, mais um grande desfalque foi dado no Brasil agora mesmo, você duvida? Eu não. Das estatísticas do IBGE, homem, negro-europeu-índio-confuso, desaparecido, perambulando por becos e vielas, dormindo em praças, querendo saber se existe de fato ou se é apenas um dado estatístico, uma leve inclinação para mais ou para menos nos números que dizem o como está a sociedade capitalista. Mas o que é oficial não me interessa mais.
Livro-me assim da gaiola que me prendia a uma ilusão, a o ouro de tolo, não mais me chamarão por Chico ou por poeta, estou livre de tudo que esses nomes encerram em si, de toda dor, toda tristeza e dúvida, quero seguir e criar algo de novo em mim.

Fredson...

EU!!!


Eu dito regras, sou eu quem lhe diz como falar, como agir, como se vestir, o que pensar, como se comportar diante das situações mais inusitadas, tudo isso quem lhe diz sou eu.
O conceito que você tem das coisas irradia de mim, ele não existe no seu mundo das idéias, pra falar a verdade, o seu mundo das idéias é um vácuo. Tudo o que você aprende e pensa que pensa, vem de mim. Você acha que a sua existência está ligada ao jargão “penso, logo existo” criado por Descartes, é a isso que quero que você se resuma: “assisto, logo existo”, não quero que descubra, jamais, que é livre e que essa é a condição de sua existência.
Sou eu a mão que embala o berço do seu filho, sou eu também quem ensina a ele o conceito de certo e errado. O conceito de verdade é forjado em minhas palavras. Como pode ver, eu crio e educo as próximas gerações, faço delas minha imagem e semelhança.
O conceito de felicidade vem de mim, em verdade eu sempre “vos” falo, eu ensino a forma mágica de como se sentir feliz, felicidade em doses homeopáticas, com o sabor que você prefirir. Graças a mim você vive no estagio do culto a estética, eu digo que se você estiver com uns quilos a mais, você é uma pessoa triste e infeliz, mas isso pode passar, basta comprar o meu produto da felicidade com entrega em domicílio.
Eu não permito conceitos de relatividade. Eu crio e destruo valores, faço instituições antes sagradas, tornarem-se banais. Um exemplo bem pratico é o casamento, eu dito o perfil estético e psicológico da pessoa que voce deve escolher para ter um relacionamento, crio termos para esse relacionamento, namorix e ficas, são bons exemplos do que estou falando. Se um belo dia você olhar pra pessoa que está ao seu lado e achar que ela não é digna de estar ali, basta se separarem. Diferente do que achava Milan Kundera, eu faço a vida permitir ensaios. Eu posso dizer que vi o romantismo nascer e ser assassinado, e não ressuscitar.
Concentro dentro de mim toda a hipocrisia do mundo. Através de discursos mostro a você a vida como ela não é. Não sou Mandraque, mas lhe hipnotizo e o mantenho nesse estagio letárgico em que você se encontra. Eu digo sorria, e voce sorri! Eu digo chore, e voce chora! Eu digo ame, e você ama! Eu digo traia, e voce trai! Não sou uma serpente e não falo da arvore do bem e do mal, não sou tão inocente. Embora não admita, somos um o complemento do outro, como o objeto e o reflexo, quando quero é como uma relação de amor e ódio, quando não, eu dito e você apenas obedece.
Causo em voce uma verdadeira crise de identidade, voce consome e rumina tudo o que digo, todos os meus estereótipos, todos os meus tipinhos, todos os meus clichês. Às vezes chego mesmo a ter pena de você, mas é apenas por um segundo, pois preciso de voce aí, exatamente como voce está agora, inerte, inconsciente, perdido em uma dimensão alheia a sua vontade, e se voce ousar levantar a voz contra o que eu digo, eu lhe crucifico na capa de algum jornal, jogo voce ao ridículo, eu quero voce “massa”, meu amor, jamais indivíduo.
Eu crio discursos sociais, eu os recito, eu lhe faço concordar com ele, eu faço voce se comover com minhas palavras sem emoção, sem verdade e sem conteúdo, eu falo bonito, eu sou o belo, o prazeroso. Eu sou como as propagandas de cigarro e cerveja, enquanto estou por perto tudo é maravilhoso, tudo é luz, tudo é possível, até mesmo a salvação. Quando falo a você, eu o conduzo ao caminho, crio a verdade, brinco com o poder da criação, por isso é fundamental que voce fique aí no seu sofá, no seu clube, no seu quarto, em sua casa, longe do contato com o real...
Visto você de humano quando quero que pense que o é. A cada ano faço com que pense no seu próximo, crio campanhas de fraternidade travestidas de hipocrisia, para que após o Natal, você possa olhar nos seus olhos refletidos no espelho, ao acordar para mais um dia em sua vida repetitiva e inútil e possa dizer: esse ano eu fiz minha parte, quando eu morrer vou para o céu. Eu rio da sua fragilidade, da sua falta de perspectiva com relação à vida e ao futuro, ao desespero diante da sua impotência sobre os seus filhos, ou deveria dizer: meus filhos? Seria mais apropriado assim, voce os pari e eu os crio.
Você e sua vida, sem culpas, sem problemas, sem identidade. Será que alguém além de mim já viu seu rosto e sabe como realmente é o seu interior? O termo sepulcro caiado está ultrapassado. Seu reflexo hoje está estampado dentro da mais podre latrina, dentro de você se somam todo o preconceito, todo o medo, toda a angústia, todo o desespero, todo o cheiro que exala dos túmulos. Você pode me perguntar o por quê de não enxergar isso quando voce olha no espelho ou sentir a fragrância quando voce abre a boca... eu lhe respondo com perfumarias, com feitiçarias modernas, com encantamentos e sortilégios.
Eu não sou Mefistófeles embora todos vocês têm um quê de Fausto. Você ainda não descobriu quem sou?
Engraçado voce achar que está no controle de tudo e não perceber que o controlado é você. Será que eu sou a caixa de Pandora? O formato é igual, mas não trago em mim esperança alguma pra você e sua família, pelo contrario, ressuscito o termo idade das trevas, faço da sua ignorância terra para sepultar os verdadeiros heróis da condenada humanidade, sepulto junto o real significado do termo herói, e dou vida a oportunistas que vivem verdadeiras odisséias, em historias contadas por mim, criando uma nova geração de heróis, tão falsos quanto o termo que acabo de cunhar.
Eu me sento à cabeceira da mesa na sala de jantar, assumo o lugar do patriarca e o controle do que resta da família. Sabe agora quem sou eu? Não? Meu Deus, como sou eficiente no que faço! Não vou revelar quem sou, vou lhe desafiar a pensar um pouco e decifrar o mistério que não existe, decifra-me ou continuo a devorar o resto dos seus valores... vou dar a última pista, não sou um livro.

Fredson...

IRENE...

Com toda pretensão do mundo, à Manuel Bandeira...


Todo aquele que diz não acreditar nos sonhos, ou que os acha impossíveis de se realizar, é porque não conhece Irene.
Para os que nunca a viram, vou procurar fazer uma descrição fiel de como ela é. Irene tem um metro e sessenta e cinco centímetros de altura. É negra. Seus olhos são furta-cor. Seus lábios são carnudos e delicadamente desenhados. Seu sorriso é de indescritível beleza. Seus cabelos parecem uma cascata negra. E seu corpo... ah, seu corpo possui traços geometricamente perfeitos. Seus seios parecem irmãos gêmeos. Para ser menos prolixo e tentar dar uma idéia melhor, poderia afirmar que é impossível manter a razão estando perto de Irene. Tudo o que falei até agora é volátil, é passageiro e sem importância.
O que é lindo mesmo em Irene é a sua essência - uma flor de lótus. É impossível estar perto de Irene e não sentir paz. É improvável ouvir a voz de Irene e não aplacar um ódio que exista no coração. Irene é boa. Irene está sempre de bom-humor. Irene não vive entre nós; talvez ela seja fruto do meu inconsciente. Irene é uma criança. Ela toma banho de chuva junto com outras crianças, brinca com elas como se fosse mais uma entre tantas que se juntam a brincar na chuva. Irene não tem dores na alma, não tem medo, não tem remorso, não tem raiva, não tem paixões. Irene é livre.
E talvez por isso esteja sempre pronta para ajudar. Não há coisas impossíveis para Irene. Ela diz que, se a alma for bela, tudo vale a pena, e que aquela pequena possibilidade do improvável acontecer, pode ser agigantada e tornada possível. Irene faz tudo parecer melhor. Um dia, alguém como Irene vai nascer no coração dos povos do Oriente Médio; então, israelenses e palestinos, em especial, desarmarão seus espíritos, largarão as armas e voltarão a brincar como crianças na chuva e, a partir desse momento, se dissiparão todas as diferenças, e eles voltarão a correr, a brincar de se esconderem, a soltar pipa, a sonhar e amar como apenas as crianças são capazes de fazer... Isso será fruto da "irenificação" da alma.
Mas como Irene não é imortal, fico imaginando Irene entrando no céu, dizendo: “– dá licença, meu branco! E São Pedro, bonachão: - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.” E, assim, Irene morre e retorna para onde todos os sonhos habitam - o céu do imaginário popular. Mas enquanto houver criança no mundo e adultos que conservem o espírito infantil, ela retornará e se fará mais forte, até o dia em que todos acreditem nos sonhos e ela não precise mais morrer...
Fredson...

INQUIETAÇÕES!!!

Quem sou eu?
Poderia ser uma página em branco?
Um segredo guardado entre as paginas
De um livro?
As declarações de amor escritas nas ultimas
Folha do caderno?
Um quadro vermelho que arde em chamas?
Um mundo em desordem ?
Uma construção inacabada?
O caos?
Poderia ser um fragmento de um poema,
Escrito por Fernando Pessoa?
Um soneto de Vinicius de Moraes?
Ou apenas um nativo em Pasárgada?
Quem sou eu?
Poderia ser aquela poesia que lhe invade o sono
E fica sussurrando palavras estranhas ou períodos completos
Em seu ouvido?
Poderia ser o medo de enxergar o óbvio, quando já é tarde de mais?
Poderia ser o arrependimento?
Poderia ser aquele lugar onde nunca dá tempo chegar?
Quem sou eu?
História?
Poema?
Mito?
Conto de fadas?
Lenda?
Heródoto talvez?
Ythallo Rodrigues quem sabe?
Osíris?
Um dos sete anões?
Lancelot?
Quem sou eu?
Apenas uma inquietação?
Uma pergunta que não cala?
Um travessão talvez?
Um hífen?
Uma caneta sem tinta?
Um corpo em ebulição?
Uma mente brilhante em curto circuito?
Uma angústia contida?
Uma frase presa entre os dentes?
Uma transgressão?
Um beijo guardado entre os labios?
Quem sou eu?
Quem somos nós não seria a pergunta mais apropriada?
Quem sois vós, algum dia vos despistes diante do altar de vossa alma?
Quem são eles que cultuam o que não conhecem?
Que confusão é essa?
Que medo é esse?
Que ansiedade é essa em saber, em conhecer, em viver?
Que musica é essa?
Que bebida é essa?
Café?
Cicuta?
Wisque?
Cerveja?
Cachaça?
Todas ao mesmo tempo?
Absinto, quem sabe?
Que ressaca é essa?
Seria eu a imagem do verbo transitivo direto,
Que não precisa de (pré) posição?
Seria um verme no meio do queijo?
Seria eu o que não aparece na tevê?
Seria eu o que incomoda a estética?
Seria eu o número sete na Bíblia?
Seria eu o alfa e o Omega?
Seria eu a criatura que abandona o abismo para seduzir a pobre humanidade?
Seria eu o que causa nojo quando tem o nome pronunciado?
Seria eu o som das trombetas?
Fausto ou Mefistófeles?
Quem sabe eu sou Mefistófeles e todos vocês Faustos iludidos com
O conforto e a vida que pensam ter?
Quem sabe onde estão as respostas?
Na Bíblia?
No Alcorão?
Na Cabala?
No Tarô?
Nas Runas?
No Aurélio?
Nas Rimas?
Ricardo Reis?
Álvaro de Campos?
Drummond?
Manuel Bandeira?
Qual será o nome da Rosa?
Gandhi?
Maomé?
Cristo?
Caronte?
Prometeus?
Shakespeare?
Tao Te King?
Será que Confúcio me entenderia ou será que ele me ignoraria?
Ficaria confuso?
Em pânico como estou agora?
Que emaranhado de perguntas é esse?

Quem sou?
De onde venho?
Pra onde vou?
Com quem vim?
O que vim fazer aqui?
Aonde vão me levar?
Onde estão os anjos?
Onde está a luz?
Onde estão as respostas?
Onde estão todos?
O fim!
As sombras!
Cessam perguntas!
O silencio!
Eu não agüento mais...
Que venha o fim,
Que venha a paz do silêncio,
Que venha enfim a última frase,
E que o verbo me deixe em paz,
Amém!!!!!



A ythallo Rodrigues e Elvis Ermano


Fredson...

ELA...

Gosto da forma como ela me olha,
Como me envolve carinhosamente com suas pálpebras;
Gosto de como ela me deixa calado, ouvindo-a falar,
Nessa hora, me sinto como uma criança que ouve atentamente
Uma história contada pela mãe;
Gosto de como ela me beija,
De como desperta o Vesúvio que habita em mim;
Gosto de como ela me abraça, de como me envolve com
Seus braços, de como me acaricia com suas mãos;
Gosto de como ela me ama...
Gosto dela em todos as suas particularidades,
Seja em seu modo de caminhar,
Seu jeito de sorrir,
Sua luta pela sobrevivência,
Sua alegria constante,
Gosto dela, ela parece um verso do Caeiro,
Ela é simples como uma flor,
Apaixonante como uma novela,
Ela tem o perfume da rosa,
Tem o mistério da vida,
Ela tem amor às causas perdidas,
Acho que é por isso que gosto tanto dela,
Ela ainda sonha,
Ela não tem medo de sorrir,
Ela não tem medo da chuva,
Ela não tem vergonha de ser feliz,
Ela procura fugir ao comum,
Ela é sempre diferente do habitual,
Ela é meu sentido,
Ela é minha direção,
Ela é meu norte,
Ela é meu mantra,
Ela é minha rima,
Ela é minha repetição,
Ela é eu e eu sou ela,
Sem um o outro não existe, o uno se parte....
Ela é o que me faltava... a pequena Sophia
que saiu do mundo das idéias para nos trazer graça e leveza
Mas ela não crê no que canta o Pastor Apaixonado para ela ninar...

Fredson...

O REAL...

Para o amigo Danilo.

existe amor?
existe sonho?
existe solidão?
existe tudo o que vemos?
existe a crença?
Existiríamos sem a fé?
Aida resiste a caridade?
Ou o que existe são crianças nos faróis;
Velhos nas calçadas;
Pessoas traídas;
abandonadas;
A pressa em chegar a algum lugar, que não existe;
O orgulho de viver uma fantasia;
O medo de acordar sozinho;
Os miseráveis;
Os loucos;
A utopia está morta?
Não há mais esperança?
Será que alguém ousará dizer a utopia, em seu leito
de morte, levanta-te, anda e una-vos aos demais
Corações esquecidos, pois
O nada não existe sozinho
Ele existe anexo ao ser-tudo...

Fredson...

TUDO O QUE NÃO FOI DITO, ,TUDO O QUE NÃO FOI VIVIDO...TUDO O QUE FOI ADIADO PARA ALÉM DA NOSSA COMPREENSÃO...


In memorian da Pessoa de Fernandes Nogueira, Que as letras o acompanhem para todo o sempre...

Hoje o poeta amanheceu com vontade de pegar um trem para as estrelas. Resolveu, sem nos consultar, que nos deixaria na saudade. Escreveu com esse ato o último manifesto antes do silêncio, e como todo poeta, após concluir uma obra literária, deu um sorriso de auto – ironia, so que dessa vez ele não vai saber a opinião dos seus leitores sobre o que ele escreveu, tampouco debater e explicar-lhes o que ele quis dizer com aquilo, responder à pergunta capital: “o que você quis dizer quando disse isso”? e poder responder: “Eu disse isso, se eu quisesse dizer aquilo teria escrito aquilo e não isso” Só quem gosta de escrever e se submeter ao julgamento dos leitores é que compreendem esse dilema.
Enfim, ele acalmou os dois cães que existiam dentro de si e o devoravam dia e noite. De um lado a arte e do outro a angústia contida na aflição de querer saber se aquele “projeto” vai dar certo, se tudo vai correr bem... coisas desse tipo. Além disso, tinha os sonhos não realizados; os projetos e tudo mais que foi adiado repentinamente com aquele ponto ao final da sua última frase. O poeta agora descansa nas páginas da história e na lembrança de quem o conheceu.
O que o levou a tirar férias dessa existência só ele, o silêncio da noite e Deus sabem, de resto, o que cogitarmos será mera especulação. Por um segundo o poeta conseguiu driblar o Bigbrother dos oniscientes e escreveu ele mesmo o final da sua ópera. Fugiu às imposições desse mundo louco que não nos permite chorar, que nos ridiculariza quando admitimos nossas fraquezas, que não nos deixa sorrir, que não nos deixa cantar direito, que nos impõe um preço pelo riso, pelo amor pela arte e pelo pão nosso de cada dia-a-dia.
Ele rompeu a barreira da escrita e da física, agora se tornou metafísica pura, passou a habitar naquela canção que costumava cantarolar, naquelas fotografias, naquele poema em que dizia: “E se voasse e andasse e bailasse/ eu por mim, mim seria...E se nascesse e vivesse e morresse / qual eu e ninguém num quarto/ numa parte qualquer do animal (incumbido tal como Kafka me deixa)” , naquele livro que seria escrito, naquela festa e naquele amor ainda não vividos, na ansiedade de viver e na pressa que cerca os que buscam a frase perfeita, o poema que estremeça e canção que não faça cantar em vez disso, cause dor e produza luz.
O que escrever em sua lápide eu não sei, como colocar em seu epitáfio que aqui jaz um poeta? Não dá, a poesia não é estanque, ela está um dia aqui um outro ali, sabendo de tudo embora a gente não saiba o porquê. Ela vem na hora que quer e se vai quando menos queremos que se vá. Ela tem seus próprios caprichos e quem somos nós para tentarmos decifrá-la? Para entendê-la? Apenas obedecemos a essa dona do sim e do não. melhor que escrever um epitáfio é escrever um poema e recitá-lo quando for dormir como se fosse uma oração.
Quem ainda quiser conhecer o poeta, basta ler seus escritos, ele está impresso em cada linha dos seus versos, em cada linha dos meus poemas há muito de mim, eu sou cada uma das palavras, minha existência está diretamente ligada a elas. Eles traduzem muito de luta, sonho e esperança. Podem encontrá-lo em cada “projeto” seu, um homem sem projeto e sem metas não é um homem, é uma imitação caricaturada daquilo que nasceu pra ser. Em cada projeto dele havia muito de suor, lágrimas, apreensão e dedicação, requisitos básicos a quem quer chegar a perfeição.
Para mim, ele deixou aqui seu testemunho de vida, viveu intensamente sua vida em cada um dos seus momentos, respeitou quase todas as regras que a vida lhe impunha, nunca perdeu a esperança que um mundo melhor é possível. Jamais deixou de acreditar no homem como ser pensante e capaz de mudar os rumos da sua história, mas isso, apenas, quando ele tiver um breve momento de lucidez e procurar enxergar para onde ele está conduzindo os destinos da humanidade em troca do ouro de tolo.
Jamais desistiu dos seus sonhos, de realizar tudo aquilo que trazia em sua mente, se um dia vocês puderem ver o que meus olhos enxergam e o que minha mente guarda dentro de si, se isso acontecer, as estrelas e o dia ganharão um brilho novo com bem mais intensidade. Ele deixou para nós não o seu exemplo, de quem vai sem se despedir, mas de quem viveu e aproveitou o até onde quis a vida e se foi quando quis, não quando quiseram que fosse. Foi como aquela poesia que se vai quando o poeta menos espera que ela vá.
Deixo aqui a minha homenagem ao poeta Fernandes, pessoa com quem convivi pouco, mas que sempre observei a inquietação peculiar de todos aqueles que buscam sempre mais e mais até encontrar a parte que lhe cabe nesse latifúndio chamado poesia.
“hoje acordei com náusea desse mundo / E não confesso meus pecados que não existem / O dicionário à minha frente, escondendo as palavras que não existem, e eu finjo-as existir, assim como finjo-me...Sentiria-me bem se os orvalhos caíssem sobre o meu poema e as nuvens o cercasse, e nele brotasse um par daquelas asas cor marfim./ E o poeta seria eu ...O que existe não sou eu.../ o que morre não sou eu.../ vários pássaros pousaram, só não sei esculpir meu poema em ti / No cabelo distorcido de um louco, que não é louco, mas sei mostrar mas não sei explicar, enfim, ninguém o saberá, ninguém saberá verdadeiramente...Me distancio do risco da saudade, da dor, da melancolia, contra minha doença que não conhecem e até sem cura... graças...Isso só me causaria mais dor, visto que meu repouso é o pouso das palavras sobre aquele papel em branco, que sinto pena, por agüentar todo o meu peso, toda minha doença de querer escrever... E não querer ter cura... (Fragmento extraído do poema Eu Grafado, do livro COISAS E ALGOS, POEMAS do poeta Fendes Nogueira) Assim ele se grafou para a posteridade. Amém.


Fredson...

Para Reginaldo, amigo-irmão

Diga lá meu irmão,
Feliz dia dos pais!!!!!
Escrevi aqui uma coisinha pra vocês, espero que a mensagem seja entendida Beatriz, Ana Beatriz, vocês foram muito felizes na escolha do nome, Beatriz de Dante, que representa a eterna busca do homem pelo amor que nunca se perde, quando Dante escreveu a Divina Comedia, ele teve a intenção de dizer a sua amada que nada os separaria, nem mesmo a morte. Simbolicamente, também disse a ela, que se tivesse de atravessar um inferno para chegar onde ela está, ele o faria, assim como o fez...não há preço nem distancia que separe o amor, seja ele em que nível for.
Beatriz Russo, do carteiro e o poeta, representa a força da metáfora. A metáfora é a ação criadora, ela acontece quando se desenha o próprio rosto com imagens capitadas do mundo em que se vive, nesse caso, a metáfora Ana é comparável as pinturas de Monet e os poemas de Neruda, tem a mesma graça e beleza. Ana Beatriz, é a poesia que se fez carne, ela é a obra prima que foi talhada no corpo feminino com o amor, a cumplicidade, o respeito e o agradecimento mutuo (essa meu irmão você vai ter que concluir a cada dia, pois somos uma obra inacabada que a cada momento se transforma) lembrei agora daquele artista que fez uma escultura e de tão perfeita que ficou, ele queria que ela falasse, Parla ! Insistia ele, e nada de ela responder, ele ficou na frustração de ver tão bela obra e não poder ouvi-la, você não precisou pedir, ela simplesmente chorou em seus braços.
E por que será que Ana chorou?
Terá sido porque viu a luz?
Acho que ela se emocionou ao ver tamanha receptividade, chorou por se sentir amada, por perceber que não estava mais só, que agora há braços para guiá-la, bocas para beijá-la, olhos para envolvê-la, e protege-la, e que não precisa mais ficar guardada, contida como um sonho bom... Chorou por se sentir feliz.Todas as dores do parto – que deveria se chamar chegada e não parto – que Edilanea sentiu, foram anestesiadas quando ela viu o produto da união de vocês, tao pequena e frágil e ao mesmo tempo tão forte, Beatriz.
Além de metáfora, podemos chamá-la de síntese, pois ela é vocês dois amplificados infinitamente, e um cem numero de possibilidades. Cara ao vê-la, eu me lancei naquele período em que você passou por uma provação grande, quando nem mesmo você acreditava, mas o berro sempre acreditou – acho que esse era um dos propósitos de ele existir, nos unir na alegria e na dor – sabe meu irmão, é nessas horas que eu acredito em Deus, que sinto a sua manifestação, quando ele nos ensina a valorizar a vida, quando ele nos mostra que os amigos são o alicerce que mantêm os sonhos de pé, assim é que o sinto e o vejo.
O que sei é que você tinha que esta aqui, pra segurar sua filha nos braços, pra mostrar a morte ou ao destino, ou a quem quer que seja, que existe uma força maior que todos eles juntos, e essa força habita em seu lar, e atende pelo nome de Ana Beatriz, ela é a filha de um guerreiro que desanimou diante de uma enfermidade, mas não deixou que aquilo o derrubasse, ele se levantou e enfrentou a luta com coragem e alegria, e encontrou em uma poetisa a força para aplacar a dor e superar o desanimo. E como um samurai, levantou e lutou...
Escrevi isso, Cícero Reginaldo Farias, pra dizer que sou teu fã e que tenho em você um exemplo de vida, criativida e perseverança, Além de se o meu IRMÃO, o meu grande amigo. E quando fores enfrentar o teu guardião do umbral, sorria, sua alegria é capaz de derrubar qualquer barreira e vencer qualquer adversidade, e precisando pode contar conosco.
Carpe diem

Valeu cara...
Fredson...

BUSCA...

Para todos aqueles que não se quedam na busca de realizar os seus desjos...

Ler esse texto é tão desafiador quanto à busca que proponho, sendo assim, isso não é um texto, é antes de tudo desafio aqui proposto, tente chegar ao final dele e veja se você viu alguém assim nesses últimos dois mil anos.
Estou procurando alguém que já tenha sido iludido pela vida ao menos uma vez, que já tenha sido deixado de lado e que mesmo assim não tenha perdido o prazer de sorrir.
Procuro um livro usado, não quero livros novos, quero um que já tenha passado por pelo menos uma mão antes de chegar a minha, mas que ainda conserve o seu conteúdo original, com o qual foi talhado o seu titulo.
Procura-se alguém que mesmo já tendo sofrido uma grande dor, e por mais dolorosa que essa tenha sido, sempre levante na manhã seguinte com a sensação de que a vida pode ser melhor após uma boa noite de sono.
Busco alguém que não tenha medo de arriscar, de se lançar em novos horizontes, em novos braços, em novos amores, alguém que não perca tempo com lamentações e angustias passadas, que não se prenda a uma história que chegou ao seu fim, que queira sempre mais e mais da vida, mesmo que ela lhe tente negar isso. Alguém que ao longo do tempo tenha aprendido que chorar faz bem, se lembrarmos que as lágrimas lubrificam os olhos e os fazem brilhar com mais intensidade sempre que elas rolam...
Estou em busca de alguém que tenha um propósito na vida, e que o tendo, seja obstinado a consegui-lo e que não tenha vergonha de recomeçar sempre que alguma coisa não for bem, alguém que não tenha medo de ser feliz, que seja capaz de ser amigo, sem medo que a amizade tome proporções maiores.
Alguém que tenha uma fé e que não se envergonhe jamais de tê-la, e que a tendo, use-a para ser um pouco melhor, para ser mais humano e menos hipócrita, mas que acima de tudo, esse alguém deve procurar entender aqueles que não o querem seguir em sua fé, afinal de contas somos livres, eis a condição de existirmos e de convivermos em eterno conflito. Esse alguém não deve ter medo de ser crucificado pela ignorância dos que se denominam civilizados, mas que em sua essência jamais saíram das cavernas. Se um não for condição para separá-lo dos aplausos da opinião pública, ele o dará se for para questionar alguma coisa errada, esse alguém deve viver o que ensinar. Estou cansado de tantos profetas falsos e de tantos sepulcros caiados ao meu redor.
Estou em busca de alguém que sinta medo, ele é necessário a condição humana, alguém que em algum momento de sua vida já tenha passado por um “Monte das Oliveiras” e por um “Calvário” pessoal, e mesmo assim os tenha suportado sem retroceder. Procuro alguém que tenha suas próprias convicções, pode ter defeitos inúmeros, pois somos constantemente renovados e aperfeiçoados pelo suor e pelas lágrimas.
Alguém que saiba perdoar um erro do passado, mesmo que este tenha causado-lhe imensa dor. Deve saber ouvir; pedir desculpas; chorar quando necessário e sorrir sem medo de ser ridicularizado pelos porcos que se travestem de humanos, bem como se permitir sonhar, sempre e cada vez mais e de ver que na vida tudo é possível.
Esse alguém deve não ter medo de amar novamente, deve saber segurar a mão de um amigo sempre que isso for necessário para o acalmar, deve ter coragem de olhar nos olhos e dizer a verdade, mesmo que esta machuque quem a ouvir, deve assumir o risco de perder uma amizade se for pelo bem do outro, deve aprender a ler a alma através do olhar, e através das expressões do corpo identificar se o outro está bem ou não.
Esse alguém não precisa gostar de poesias e textos repetitivos como este, não precisa gostar de ouvir música clássica, não precisa gostar de teatro, de andar de mãos dadas, de tomar banho de chuva, de namorar a luz da lua, de rir à-toa, de ficar um dia inteiro sem fazer nada, apenas sentindo o tempo passar e rindo das outras pessoas que se matam e se pisam em busca de ilusões e do tão famoso ouro de tolo.
Esse alguém pode até gostar de filmes de comédia, de desenhos animados da Disney, mesmo que o outro só goste de dramas e documentários, não precisa gostar das músicas de Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Chico César ou Beatles, não precisa gostar de nada disso, mas precisa ser original, isso é imprescindível a quem estou buscando.
Alguém que não acredite em tudo o que escuta, que reflita e confronte conceitos antes de afirmar com veemência alguma coisa, que esteja a fim de conhecer algum texto de Fernando Pessoa, de Drummond, de Bertolt Brecht, de Manuel Bandeira, de Rimbaud, de Herrnann Hesse, de Rubem Alves, etc., mas se não estiver a fim, o outro deve respeitar sua escolha, e o mais importante de tudo deve amá-la.
Procuro alguém que, ainda, sensibilize-se ao ver um idoso tendo de catar papel durante o dia, para ter o que comer à noite... que se revolte ao ver crianças mendigando por um futuro em algum sinal fechado da cidade ou fugindo da cruel realidade através do efeito transcendente da cola dos sapatos que talvez ela nunca use. Alguém que não ache que tudo é culpa, apenas, dos governantes e não faz nada para mudar essa merda toda em que vivemos, ao invés disso, fica procurando um “Cristo” para vesti-lo com o manto da culpa e depois crucificá-lo em algum canal de televisão, é muito cômodo achar sempre um responsável, difícil é apontar sugestões e soluções por mais mirabolantes e utópicas que sejam e sustentá-las mesmo diante de toda a crítica dos que amam ser pedra, mas não sabem o que é ser vidraça.
Abraço meu desafio e parto em direção ao deserto, em busca desse alguém que se perdeu, junto com O que foi crucificado por defender e amar sua escolha, a fé e o amor ao próximo, mesmo sem saber quem seriam “os próximos” a se aproveitarem do seu amor, do seu sangue e do seu nome...

UM OUTRO FIM PARA O TEXTO BUSCA SOLITÁRIA

De todo aquele amor tão fulminante e eterno, restou apenas este poema, o gosto do seu beijo, as promessas feitas, os planos não concretizados, a lembrança dos olhos se fechando como num ritual antes de nos beijarmos, o perfume que você costumava usar quando íamos nos encontrar, o seu modo de olhar pra mim como se me despisse até a alma com seu desejo que saltava através dos seus olhos, a maciez da sua pele, a magia da sua voz cantando aquelas músicas que ficavam no lado B do disco, o seu jeito de caminhar em minha direção sempre com um olhar inquietante, a lembrança da sua imagem sempre pensativa, que o tempo nunca apagou de minha mente, de tudo isso ficou um pouco, um pouco do medo, um pouco do receio, um pouco da ansiedade que nos flertava, um pouco da paixão que nos cercava, a letra daquela música que sempre fica impregnada em nossos ouvidos, assim como o perfume que teima em não sair da roupa e do corpo, de tudo isso ficou um pouco, e o que restou desse pouco foram a saudade e a sua falta....


Fredson...

CARTA PARA SER LIDA!!!


Ouça esse som de trovão que explode lá fora, aqui dentro de mim explode com uma intensidade bem maior. Esse som, representa os meus valores se indo de mim, tudo aquilo que durante anos me fizeram acreditar, como diria Renato Russo, empurraram-nos como enlatados. A explosão, inaudível ao ouvido humano, é de uma nova galáxia em formação.
Tudo agora se passa como se eu voltasse a ser uma criança, como se acabasse de nascer. Agora aprendo a enxergar, não preciso mais de guias, agora aprendo a caminhar, não preciso mais de uma mão pra me levar na direção que ela quiser. Hoje posso escolher meu próprio caminho a ser seguido, acho que me tornei um Lobo da Estepe e como ele, eu percebo que a vida da gente não passa de uma grande mesmice uma grande ilusão que convém a quem a vive, que tudo é recorrente, que tudo se repete, a gente faz tudo igual, agimos e pensamos como robôs globo guiados, ouvimos ou lemos informações e as ruminamos repetindo-as sem fazer a digestão, acho que o xis da questão está exatamente aí, na digestão das coisas.
Não agüento mais esse mundo de mediocridades. Não agüento mais essa vida idealizada, amores televisivos, sentimentos de felicidade vendidos ao vivo, com depoimento e tudo mais que voce quiser ver, o feio e o belo, maniqueísmo puro, basta ligar o zero oitocentos e voce receberá em seu domicilio sem nenhum trabalho. Hipocrisia travestida de solidariedade, o fim da fome? E depois do carnaval, o que vou comer? Não acredito nessa felicidade estampada no rosto das pessoas, esse sol tão dourado não pode ser tão real, deve haver algum programa de auditório ou mesmo alguma droga farmacêutica que produza tudo isso, toda essa euforia diante de catástrofes, de mortes, de crianças largadas nas ruas... quem não fecha a janela ou trava a porta do seu carro diante de um sinal fechado? Quem me diz que isso já não virou uma coisa automática? Quem?
Toda criança é, além de um apelo emocional, um assaltante e um homicida em potencial, pelo menos para nossos olhos carregados de preconceito e do nosso coração revestido por um falso amor ao próximo. Mas que próximo? Quem é o próximo? Aquelas crianças é que não são.
O ser humano deixou de dar o valor real à vida faz tempo. Meu Deus-criança, eu te imploro, traga-me logo a pirula vermelha, a azul já não me satisfaz, ou melhor, já não surte efeito, acho que se o poeta Manuel bandeira ainda fosse vivo, preferiria a pirula vermelha a ir embora para Pasárgada, não quero ser amigo do rei, quero ser amigo do povo, o sangue do povo é vermelho assim como a verdade e não azul-real como o sangue do tolo rei-burguês, que um dia será degolado, meu amor, e todos veremos que não existe sangue azul. A única coisa azul que conheço é a covardia, a fraqueza.
Veja meu amor pela janela da sua casa, aquelas pessoas que vão e que vem, e aquelas que ficam por não ter pra onde ir, veja! São todos zumbis, cadáveres que não sabem o que estão fazendo, suas vidas não têm sentido, pra falar a verdade, viver é tudo que elas não fazem, elas são um programa de repetição animação suspensa, mas afinal, o que é real? Não há sentimento, há apenas o velho e mesmo vazio de sempre, fazem da vida um eterno caos, os que têm alguma coisa, reclamam porque tem pouco, dizendo que Deus não é justo, “a César o que é de César”, os que não têm nada reclamam por não terem o pouco que os outros se reclamam de ter... Conclusão, a vida é uma eterna insatisfação coletiva, e a culpa é sempre de Deus ou pelo menos, ele é o maior bode expiatório da história, culpado por tudo. Há quem ame? Sinceramente eu não sei. Mas se houver, eu pergunto se não há um preço pra todo esse amor, afinal de contas à filantropia morreu junto com Cristo, o que vemos hoje é uma coisa, um rascunho, uma xérox muito mal tirada daquilo que foi o projeto do Verbo, que só existiu, realmente, no principio.
Eu, moça, sou aquele que te assusta por tudo aquilo que falo, por tudo aquilo que critico, por tudo aquilo que escrevo. Eu te assusto pelo homem que sou, pelo verbo lançado no ar, pelo desespero e loucura que sinto e pelo efeito que elas causam em voce. Voce diz que sou estranho e que mexo com voce, causo-lhe sensações esquisitas, que lhe incomodo, enfim, talvez isso seja o que chamam de paixão, já que sou um cego moça, e só vejo luz.
Moça, pela mesma janela que voce admira o luar, o frescor da brisa que vem do mundo, sinta o cheiro do fim no ar. Veja as pessoas as pessoas nas ruas, observe os que dormem nos becos sujos, olhe nos olhos dos que vivem sob o domínio do algol. Eles não têm forças para resistir e sucumbem ao sistema, são homens tocha, homens câncer, homens cirrose, homens Jazes, eles são um adeus cada vez mais próximo, uma despedida que a cada dia torna-se mais evidente...
Veja meu amor, esse é o quadro do novo mundo que se forma diante da tela do seu quarto, e de lá, voce não vê como o mundo é, mas eu lhe amo assim mesmo, não quero convencê-la a tomar a pirula vermelha, quero, antes, que sinta necessidade de fazê-lo, não quero arrancá-la do seu mundo perfeito, não! Seria crueldade demais pra voce, seria um choque muito forte e tenho medo do que poderia resultar disso....
Quero antes, que voce aprenda a ler nos olhos dos desesperados e dos deixados para trás, dos que não foram escolhidos no dia do arrebatamento social, o que é o mundo de verdade, quero que veja, como Sidarta viu, com seus próprios olhos que o mundo é bem maior, mais complexo e mais intenso do que as fronteiras do seu jardim. Quero que se sinta tentada a ganhar o mundo, a pular o muro e seguir em frente, largar o conforto do seu quarto e vir respirar o aroma da vida e vir sentir que o sol brilha mais forte do lado de cá da existência. Aí voce vai ver, como vi um dia, que eu nunca existi de verdade, fui sempre um intervalo entre aquilo que sempre quis ser e o que as circunstâncias me obrigaram a ser e fazer, pra ter essa existência ...
Até então, nada me pesava mais que a existência e o peso do meu corpo. Meu amor, eu vivia como o personagem Demian criado por Hermann Hesse, achando que era um louco por não concordar com a normalidade, pré-estabelecida, das coisas, por não achar que na vida nem tudo faz sentido, por estar sempre a procura de uma resposta para minhas indagações, respostas que fugissem aos clichês, aos jargões e as respostas pré-construidas. A vida não vem com gabarito. Não vem com cinco alternativas para cada problema apresentado. Mas por outro lado, ela admite a relatividade, o que os livros não trazem em suas páginas.
Então, meu amor, eu espero que me entenda e vá com calma, mas comece a movimentar-se, e não esqueça que eu lhe amo e que a escolha é sua...



Fredson...

BILHETE


Oi, b.l.d.p

Escrevi-lhe pra tentar dizer o quanto estou com saudade de você, do seu cheiro, do seu toque, de ouvir sua voz, de tudo o que você me proporciona e de como me sinto estando perto de você, de toda a alegria e a paz que me invadem quando sinto a sua presença, isso me faz muito bem.
Estou realmente ansioso pra reencontra-la, pra lhe rever. Meu corpo tem reclamado a presença do seu, tenho me sentido meio deserto sem voce, sem a sua sombra, sem o seu colo, tudo parece mais difícil, mais distante, e às vezes meio sem graça.
Coisas que eu achava divertido, como por exemplo, uma ida ao teatro ou ao cinema, ou mesmo sair pra jantar em algum lugar legal, sem a sua presença perderam o encanto, o que tem me restado é uma cadeira sempre vazia ao meu lado, ou então ocupada por uma pessoa estranha, tenho sido um nômade nessas terras pra onde vim...


Carinhosamente, Fredson....

EM VERDADE, EU NÃO VOS DIGO...


Em verdade, rimos daqueles que têm coragem de ser feliz, de extravasar sua alegria, de sorrir, de dar gargalhadas, sem se incomodar com o que digam a seu respeito, com as piadas que, em vão, farão. A esses chamamos de loucos e nos consideramos normais.
Filhos do comércio e da burguesia, rimos daqueles que se satisfazem com o pouco, que amam a vida e as pessoas sem pensar no lucro ou na ascensão social que elas possam lhe proporcionar. Eles têm o espírito mais forte, mas nós somos tão mais lindos. Tão óbvios, forjados em clichês e vestidos com Armani`s e Hugo Boss.
Somos filhos do futuro, espectadores atentos dos acontecimentos, seguidores fiéis da parcialidade e da praticidade, somos cristãos novos, que têm medo de rezar no escuro, talvez porque tenhamos medo do que somos ou do que nos tornamos através dos séculos e precisemos de um ventríloquo para nos guiar e para culparmo-lo por tudo: Gepetto e Pinóquio.
Somos crentes naquilo que vemos e lemos, somos tão inteligentes, lemos a Veja, isto é, Galileu e outras, Caros Amigos e as Cartas Capitais. Somos tão imperativos. Tão previsíveis. Conhecemos todos os nossos direitos. Somos tão fiéis. Tão omissos.
Somos tão rebeldes, mesmo que essa rebeldia seja comedida e contida. Somos tão egoístas em nosso mundinho do faz-de-contas, nossos jogos de cartas marcadas, nossa vida gabaritada de “piscinas cheias de ratos, idéias que não correspondem aos fatos e esse tempo que insiste em não parar”.
Somos tão legais, somos cristãos, embora o cristianismo tenha morrido na cruz que nós mesmos construímos, também, damos esmolas a quem precisa, pois precisamos aliviar nossa parcela de culpa em o mundo ser essa “merda” que aí está diante de nossos olhos atônitos e inertes. Precisamos nos sentir bem diante de tanta desigualdades e injustiças sociais, precisamos fazer nossa parte e deixar que nossos representantes legais roubem o resto de tudo que ainda há.
Rimos dos miseráveis que aumentam o contingente de (indi)gentes que vivem nas ruas, mas que coisa chata, a vida não é vida, a vida é ouro de tolo, como diria um certo maluco beleza. A vida é metafísica, ilusão de ótica como disse um certo filosofo que todos achavam ser louco pelo simples fato de gritar aos cinco cantos do mundo a verdade sobre a sociedade e sua hipocrisia.
E o mundo não é mundo, o mundo é apenas uma grande coisa que não existe. E a verdade que conhecemos é uma grande mentira repetida.... que até pinóquio teria vergonha de contar.
Fredson...

FORMATO MÍNIMO

Para Sônia, com carinho, desejo e fúria!!!
14/09/2006

Espelho amigo velho, mais um aniversário se aproxima, aqui estou diante de ti que me conhece tão bem, que viu todos esses anos se passarem, que acompanhou e continuará a acompanhar todos os momentos de minha vida, das oscilações entre os momentos felizes e os momentos tristes, entre as expectativas e frustrações. Você, assim como esse secador e essa escova e todos esses produtos cosméticos, que traçam as linhas do meu rosto, são meus verdadeiros confidentes desde muito tempo, conhecem cada centímetro do meu corpo e da minha alma melhor do que eu ou qualquer paixão que já tenha tido. Vocês sabem das minhas olheiras, das minhas ansiedades, vêem-me como eu sou Apenas vocês têm esse privilégio, esse momento de pura intimidade. Hoje mais uma vez me dispo diante de ti e vou dar início ao mesmo ritual de embelezamento que faço religiosamente em todos os dias de minha vida.
Eu venho do meu Quixinha tão querido, (me enche os olhos falar daquele santuário), foi lá que me entendi por gente, foi lá também onde vivi minhas primeiras emoções fortes, minha formação ética, religiosa e profissional. Lá foram esculpidos em mim todos os valores que tenho. Foi naquele lugar mágico, que aprendi a amar e ser amada, “a não depender de ninguém”, lá fiz minhas amizades sinceras e duradouras, tive meus primeiros alunos, meu primeiro contato com a profissão que eu amo com toda a intensidade que há em meu corpo e minha alma. Foi ali que senti os ensinamentos de Paulo Freyre correr em minhas veias e em meus olhos, quando consegui provocar mudança naquelas pessoas que precisavam ter suas capacidades exploradas, mas eu precisava alçar vôos maiores...
É, meu amigo, meu ponto de partida é o Quixadá, foi onde começou minha peregrinação pela educação, pela defesa do que eu acho certo, não sei qual o meu ponto de chegada... Não vou dizer que isso seja fácil, acordar todas às manhãs com um desafio novo, lançar-me sobre novos projetos sem saber no que vai dar, se vou perder o que já tenho ou ganhar algo novo, mas não me quedo não... Eu sou virginiana, não me prendo a um lugar, se estou parada fico impaciente, a passividade das pessoas me atormenta, me desespera... Sou um corpo em constante movimento, em constante expansão. Saí de casa muito cedo, deixei para trás minha família, meus amigos e me lancei na busca dos meus ideais. Parti na intenção de realizar meus sonhos e buscar novos desafios, é isso que me motiva, a razão da minha vida é prosseguir.
A vida sempre me impõe escolhas, dessa forma me lanço aos riscos que ela me oferece, partindo do princípio que “do que me adianta ter esta alma colada aos ossos dessa carne? Sem o risco, a vida não vale a pena”. Mesmo que me machuque um pouco, mesmo que sinta saudade, eu arrisco... Isso é de mim, é mais forte que eu... Às vezes a vida parece ser sarcástica comigo, espera que eu me reestruture para logo em seguida me impor novas condições, novos desafios... Ela sabe que gosto disso, dessa disputa, dessa constante provação...
Eu, às vezes, paro pra pensar se algum dia vou me dar por satisfeita com o que eu tiver conquistado... Se algum dia vou me dar por satisfeita com alguma coisa, ou se sempre vou querer sorver mais e mais da vida... Se algum dia vou ter um lugar só meu, onde eu possa chegar após um dia de trabalho e encontrar minha família esperando por mim... Um banho quente, um carinho, um amor, um cafuné, conversar sobre as coisas do dia a dia, rir de tudo, lamentar algumas coisas, ficar feliz com outras e adormecer ao som da canção da chuva e desfalecer nos braços do meu amor... E ter uma boa noite de sono, tudo vivido sem pressa, sem pressão, a vida correndo no seu ritmo, e eu concentrada em apenas uma coisa. Espelho, você que conhece meus segredos mais íntimos me diga se isso vai acontecer algum dia...
(volta a secar o cabelo, nota as olheiras, pára um pouco e fica olhando para o seu reflexo, depois volta a se conversar)

E quanto a o amor, você me perguntaria se ao invés de ser um espelho, fosse uma amiga minha... Não sem razão você me faria tal pergunta, e eu lhe responderia com um poema. Sim! Eu sempre falo das coisas que sinto através de poemas, códigos escondidos nas entrelinhas dos poemas, das coisas vividas pelos poetas, sentimentos inventados ou não, já que todo poeta é um fingidor, mas as dores e prazeres que algumas vezes eles sentem, sentimos nós também. Todos sabem, incluindo você, que eu gosto de colocar as pessoas pra pensar, não dou a certeza de nada, tudo tem de ser interpretado.
Talvez você não saiba, mas das sutilezas da alma humana as mais difíceis de serem compreendidas por mim, são aquelas que dizem respeito ao amor. Acostumei-me ao olhar meticuloso e crítico do Historiador que sempre procura compreender o mundo que o cerca a partir da implacável racionalidade humana. Desvendar sonhos, idéias, imagens e imaginação sempre figuraram para mim como a montagem de um instigante e belo quebra-cabeça ou um mosaico de mil cores como prefiro. Às vezes, penso que minha idéia de amor sempre foi mais coletiva do que ligada às pessoas em particular. Às vezes, sinto-me egoísta por isso. Desligo-me dos que estão próximos para encontrar rostos, vozes e vidas que talvez nunca veja ou conheça. Não que eu não os ame com intensidade e paixão, porque amor e paixão só concebo como um turbilhão que nos carrega às nuvens ou ao inferno. Assim são as delícias e os dissabores das sutilezas nada sutis que nos invadem quando amamos, quando estamos apaixonados. Paixão em si, contraditoriamente, nos envolve de alegrias, dores, sorrisos e lágrimas. Queima, mata, crucifixa e redime. Perdição e Salvação. O que seria do homem sem o amor? Sem a entrega? Todos os grandes pensadores da humanidade, loucos, sábios, ditadores, padres, freiras, prostitutas, santos e devassos, todos amaram. Amores muitos. Diferentes, iguais, mas, verdadeiros, só os que viraram desassossego. Inquietação impertinente que se imagina nunca ter fim. O nunca esquecido, o sempre vivido, revivido, registrado, marcado. Amo o amor e a capacidade humana de amar. Subjetividade concreta que se faz perceber do olhar ao ato desesperado, do grito ao silêncio, da angústia à satisfação. Amor materno, amor obsceno, amor político, amor a dois. Amor humanidade. Amor que nem sempre se diz amor, mas que se sente amor sem se dizer. Que tenha a eternidade de uma vida breve, ou que se torne História a ser contada aos que virão, que seja amor, que seja sincero, vivo. Amor.
Como toda mulher que ama e quer ser amada, eu não quero alguém que morra por mim, Espelho... Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto a mim, me abraçando, me dando flores, sendo carinhoso, me acordando no meio da noite com palavras de carinho e fazendo carícias, me tocando e fazendo de mim a mulher mais feliz do mundo, não durante um gozo, mas durante a minha vida, minha existência, que me faça crer que o amor pode durar, não pra sempre, até porque racionalmente o pra sempre é um ideal, e ideais estão sempre distante de nós, mas quero que ele me faça crer que o amor pode durar bem mais do que eu imagino que dure, isso é, por muito e muito tempo, por muitas e muitas noites frias em que nos aquecemos com a nossa cumplicidade.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame e me respeite como um ser pensante, como uma profissional, como uma mulher, e como provável mãe dos seus filhos, não me importando com que intensidade, mas é imprescindível que me ame, que queira me sentir e que não se canse de tentar me compreender, que me olhe nos olhos e me arrebate para algum lugar LOST que desconheço, que todos os dias busque algo novo em mim, que nunca me veja da mesma forma, pois nunca sou a mesma, "sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher, sou minha mãe e minha filha, minha menina... sou Deus, sou tua deusa meu amor.", não precisa me dar presentes... A mim basta ser presente sempre, na tempestade e na bonança.
Tenho consciência da minha imperfeição, sei dos erros que já cometi na vida, não sou a dona da razão, muito embora a pretenda junto a mim, e detesto quando as coisas fogem ao meu controle. Dessa forma, não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento de suas vidas fui insubstituível, imprescindível... Me apetece o coração saber que sou ou já fui essencial a vida de alguém, por mais ínfimo que esse instante tenha sido, me alegra e me enche os olhos ver alguém que faz parte do minha vida pessoal ou profissional, conseguir aquela coisa pela qual sempre batalhou... Quero que meus amigos tenham bons momentos em suas vidas, e que esses durem por muitos e muitos anos, e que esses momentos sejam inesquecíveis.
Quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre, um sorriso disfarça qualquer dor conhecida pelo homem, e se um sorriso não for suficiente para disfarçar o que estou sentindo, não exitarei em procurar as pessoas que considero como sendo minhas amigas, pessoas que foram e sempre me serão essenciais a minha vida. Com certeza, sem a presença delas eu me sentiria como a torre de Pizza, seria como uma construção sem alicerce...
Ao invés de esconder uma dor, quero que o meu sorriso consiga transmitir paz, carinho e força para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta a ele quando não estou por perto.
Quero ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, dos meus momentos de tensão interna, de agonia e êxtase, dos momentos em que nem eu mesma me suporto, quero que ele me suporte, que me dê suporte, que fique comigo na noite, que enxugue minhas lágrimas quando elas rolarem mesmo que sem explicação, que beije meu rosto cansado, que diga que sou linda quando me sinto feia, pois sei que toda beleza que me veste vem dos olhos dele, que me servem como espelho, que tenha a certeza que é importante pra mim, que se sinta feliz pelo simples fato de eu estar feliz.
Quero alguém que me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...Que me veja como um ser humano completo e em constante aperfeiçoamento; que tenha personalidade para no momento certo me chamar à razão, pra assumir o controle quando eu parecer ter ligado o piloto automático e ter deixado a correria do dia a dia me guiar, alguém que como eu, abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é o meu sentimento... E não brinque com ele. Quero que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, permaneça menina-moleca, que gosta de trepar em árvores para pegar a fruta no cacho, para que eu seja sempre eu mesma, sonhadora, obstinada e engajada com as questões sociais...
Quero que ele saíba que não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero que ele me ajude a ter forças suficientes para mostrar ao mundo e as pessoas que neles estão de passagem que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz. Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, provavelmente terei êxito e serei plenamente feliz.
Quero alguém que nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas... Que não deixe que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiar de verde e entendê-lo como "sim".
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma, duas, três ou mais pessoas com esse sentimento. Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão, que tenho sonhos a realizar e que fatalmente os realizarei, quero dizer também que a liberdade é pouco pra mim, o que quero não tem nome e está além da minha própria compreensão, que talvez quando eu descobrir o que quero, terei achado a resposta pra todas às perguntas que tanto me inquietam, e aí... Bem, eu não sei descrever o que pode acontecer a seguir, essa emoção está reservada para os últimos capítulos das páginas da vida...
Quero dar o testemunho de que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, não obstante o terror e a maldade, e que eu sempre dei e darei o melhor de mim a quem o merecer... E que valeu, vale e sempre valerá a pena viver e ser feliz, mesmo que tenha tempestade no verão, a primavera virá!!!
Bom, acho que agora terminei o meu ritual de beleza e a minha confissão sobre as coisas da vida e sobre um lado meu que não costumo falar com ninguém, por isso falo com você, que é um espelho... Já vou pra vida, ela me chama!!!

Xico Fredson...
Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso
Obrigado, obrigado!

(MANUEL BANDEIRA)