BUSCA...
Para todos aqueles que não se quedam na busca de realizar os seus desjos...
Ler esse texto é tão desafiador quanto à busca que proponho, sendo assim, isso não é um texto, é antes de tudo desafio aqui proposto, tente chegar ao final dele e veja se você viu alguém assim nesses últimos dois mil anos.
Estou procurando alguém que já tenha sido iludido pela vida ao menos uma vez, que já tenha sido deixado de lado e que mesmo assim não tenha perdido o prazer de sorrir.
Procuro um livro usado, não quero livros novos, quero um que já tenha passado por pelo menos uma mão antes de chegar a minha, mas que ainda conserve o seu conteúdo original, com o qual foi talhado o seu titulo.
Procura-se alguém que mesmo já tendo sofrido uma grande dor, e por mais dolorosa que essa tenha sido, sempre levante na manhã seguinte com a sensação de que a vida pode ser melhor após uma boa noite de sono.
Busco alguém que não tenha medo de arriscar, de se lançar em novos horizontes, em novos braços, em novos amores, alguém que não perca tempo com lamentações e angustias passadas, que não se prenda a uma história que chegou ao seu fim, que queira sempre mais e mais da vida, mesmo que ela lhe tente negar isso. Alguém que ao longo do tempo tenha aprendido que chorar faz bem, se lembrarmos que as lágrimas lubrificam os olhos e os fazem brilhar com mais intensidade sempre que elas rolam...
Estou em busca de alguém que tenha um propósito na vida, e que o tendo, seja obstinado a consegui-lo e que não tenha vergonha de recomeçar sempre que alguma coisa não for bem, alguém que não tenha medo de ser feliz, que seja capaz de ser amigo, sem medo que a amizade tome proporções maiores.
Alguém que tenha uma fé e que não se envergonhe jamais de tê-la, e que a tendo, use-a para ser um pouco melhor, para ser mais humano e menos hipócrita, mas que acima de tudo, esse alguém deve procurar entender aqueles que não o querem seguir em sua fé, afinal de contas somos livres, eis a condição de existirmos e de convivermos em eterno conflito. Esse alguém não deve ter medo de ser crucificado pela ignorância dos que se denominam civilizados, mas que em sua essência jamais saíram das cavernas. Se um não for condição para separá-lo dos aplausos da opinião pública, ele o dará se for para questionar alguma coisa errada, esse alguém deve viver o que ensinar. Estou cansado de tantos profetas falsos e de tantos sepulcros caiados ao meu redor.
Estou em busca de alguém que sinta medo, ele é necessário a condição humana, alguém que em algum momento de sua vida já tenha passado por um “Monte das Oliveiras” e por um “Calvário” pessoal, e mesmo assim os tenha suportado sem retroceder. Procuro alguém que tenha suas próprias convicções, pode ter defeitos inúmeros, pois somos constantemente renovados e aperfeiçoados pelo suor e pelas lágrimas.
Alguém que saiba perdoar um erro do passado, mesmo que este tenha causado-lhe imensa dor. Deve saber ouvir; pedir desculpas; chorar quando necessário e sorrir sem medo de ser ridicularizado pelos porcos que se travestem de humanos, bem como se permitir sonhar, sempre e cada vez mais e de ver que na vida tudo é possível.
Esse alguém deve não ter medo de amar novamente, deve saber segurar a mão de um amigo sempre que isso for necessário para o acalmar, deve ter coragem de olhar nos olhos e dizer a verdade, mesmo que esta machuque quem a ouvir, deve assumir o risco de perder uma amizade se for pelo bem do outro, deve aprender a ler a alma através do olhar, e através das expressões do corpo identificar se o outro está bem ou não.
Esse alguém não precisa gostar de poesias e textos repetitivos como este, não precisa gostar de ouvir música clássica, não precisa gostar de teatro, de andar de mãos dadas, de tomar banho de chuva, de namorar a luz da lua, de rir à-toa, de ficar um dia inteiro sem fazer nada, apenas sentindo o tempo passar e rindo das outras pessoas que se matam e se pisam em busca de ilusões e do tão famoso ouro de tolo.
Esse alguém pode até gostar de filmes de comédia, de desenhos animados da Disney, mesmo que o outro só goste de dramas e documentários, não precisa gostar das músicas de Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Chico César ou Beatles, não precisa gostar de nada disso, mas precisa ser original, isso é imprescindível a quem estou buscando.
Alguém que não acredite em tudo o que escuta, que reflita e confronte conceitos antes de afirmar com veemência alguma coisa, que esteja a fim de conhecer algum texto de Fernando Pessoa, de Drummond, de Bertolt Brecht, de Manuel Bandeira, de Rimbaud, de Herrnann Hesse, de Rubem Alves, etc., mas se não estiver a fim, o outro deve respeitar sua escolha, e o mais importante de tudo deve amá-la.
Procuro alguém que, ainda, sensibilize-se ao ver um idoso tendo de catar papel durante o dia, para ter o que comer à noite... que se revolte ao ver crianças mendigando por um futuro em algum sinal fechado da cidade ou fugindo da cruel realidade através do efeito transcendente da cola dos sapatos que talvez ela nunca use. Alguém que não ache que tudo é culpa, apenas, dos governantes e não faz nada para mudar essa merda toda em que vivemos, ao invés disso, fica procurando um “Cristo” para vesti-lo com o manto da culpa e depois crucificá-lo em algum canal de televisão, é muito cômodo achar sempre um responsável, difícil é apontar sugestões e soluções por mais mirabolantes e utópicas que sejam e sustentá-las mesmo diante de toda a crítica dos que amam ser pedra, mas não sabem o que é ser vidraça.
Abraço meu desafio e parto em direção ao deserto, em busca desse alguém que se perdeu, junto com O que foi crucificado por defender e amar sua escolha, a fé e o amor ao próximo, mesmo sem saber quem seriam “os próximos” a se aproveitarem do seu amor, do seu sangue e do seu nome...
UM OUTRO FIM PARA O TEXTO BUSCA SOLITÁRIA
De todo aquele amor tão fulminante e eterno, restou apenas este poema, o gosto do seu beijo, as promessas feitas, os planos não concretizados, a lembrança dos olhos se fechando como num ritual antes de nos beijarmos, o perfume que você costumava usar quando íamos nos encontrar, o seu modo de olhar pra mim como se me despisse até a alma com seu desejo que saltava através dos seus olhos, a maciez da sua pele, a magia da sua voz cantando aquelas músicas que ficavam no lado B do disco, o seu jeito de caminhar em minha direção sempre com um olhar inquietante, a lembrança da sua imagem sempre pensativa, que o tempo nunca apagou de minha mente, de tudo isso ficou um pouco, um pouco do medo, um pouco do receio, um pouco da ansiedade que nos flertava, um pouco da paixão que nos cercava, a letra daquela música que sempre fica impregnada em nossos ouvidos, assim como o perfume que teima em não sair da roupa e do corpo, de tudo isso ficou um pouco, e o que restou desse pouco foram a saudade e a sua falta....
Fredson...
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