Sunday, November 12, 2006

TUDO O QUE NÃO FOI DITO, ,TUDO O QUE NÃO FOI VIVIDO...TUDO O QUE FOI ADIADO PARA ALÉM DA NOSSA COMPREENSÃO...


In memorian da Pessoa de Fernandes Nogueira, Que as letras o acompanhem para todo o sempre...

Hoje o poeta amanheceu com vontade de pegar um trem para as estrelas. Resolveu, sem nos consultar, que nos deixaria na saudade. Escreveu com esse ato o último manifesto antes do silêncio, e como todo poeta, após concluir uma obra literária, deu um sorriso de auto – ironia, so que dessa vez ele não vai saber a opinião dos seus leitores sobre o que ele escreveu, tampouco debater e explicar-lhes o que ele quis dizer com aquilo, responder à pergunta capital: “o que você quis dizer quando disse isso”? e poder responder: “Eu disse isso, se eu quisesse dizer aquilo teria escrito aquilo e não isso” Só quem gosta de escrever e se submeter ao julgamento dos leitores é que compreendem esse dilema.
Enfim, ele acalmou os dois cães que existiam dentro de si e o devoravam dia e noite. De um lado a arte e do outro a angústia contida na aflição de querer saber se aquele “projeto” vai dar certo, se tudo vai correr bem... coisas desse tipo. Além disso, tinha os sonhos não realizados; os projetos e tudo mais que foi adiado repentinamente com aquele ponto ao final da sua última frase. O poeta agora descansa nas páginas da história e na lembrança de quem o conheceu.
O que o levou a tirar férias dessa existência só ele, o silêncio da noite e Deus sabem, de resto, o que cogitarmos será mera especulação. Por um segundo o poeta conseguiu driblar o Bigbrother dos oniscientes e escreveu ele mesmo o final da sua ópera. Fugiu às imposições desse mundo louco que não nos permite chorar, que nos ridiculariza quando admitimos nossas fraquezas, que não nos deixa sorrir, que não nos deixa cantar direito, que nos impõe um preço pelo riso, pelo amor pela arte e pelo pão nosso de cada dia-a-dia.
Ele rompeu a barreira da escrita e da física, agora se tornou metafísica pura, passou a habitar naquela canção que costumava cantarolar, naquelas fotografias, naquele poema em que dizia: “E se voasse e andasse e bailasse/ eu por mim, mim seria...E se nascesse e vivesse e morresse / qual eu e ninguém num quarto/ numa parte qualquer do animal (incumbido tal como Kafka me deixa)” , naquele livro que seria escrito, naquela festa e naquele amor ainda não vividos, na ansiedade de viver e na pressa que cerca os que buscam a frase perfeita, o poema que estremeça e canção que não faça cantar em vez disso, cause dor e produza luz.
O que escrever em sua lápide eu não sei, como colocar em seu epitáfio que aqui jaz um poeta? Não dá, a poesia não é estanque, ela está um dia aqui um outro ali, sabendo de tudo embora a gente não saiba o porquê. Ela vem na hora que quer e se vai quando menos queremos que se vá. Ela tem seus próprios caprichos e quem somos nós para tentarmos decifrá-la? Para entendê-la? Apenas obedecemos a essa dona do sim e do não. melhor que escrever um epitáfio é escrever um poema e recitá-lo quando for dormir como se fosse uma oração.
Quem ainda quiser conhecer o poeta, basta ler seus escritos, ele está impresso em cada linha dos seus versos, em cada linha dos meus poemas há muito de mim, eu sou cada uma das palavras, minha existência está diretamente ligada a elas. Eles traduzem muito de luta, sonho e esperança. Podem encontrá-lo em cada “projeto” seu, um homem sem projeto e sem metas não é um homem, é uma imitação caricaturada daquilo que nasceu pra ser. Em cada projeto dele havia muito de suor, lágrimas, apreensão e dedicação, requisitos básicos a quem quer chegar a perfeição.
Para mim, ele deixou aqui seu testemunho de vida, viveu intensamente sua vida em cada um dos seus momentos, respeitou quase todas as regras que a vida lhe impunha, nunca perdeu a esperança que um mundo melhor é possível. Jamais deixou de acreditar no homem como ser pensante e capaz de mudar os rumos da sua história, mas isso, apenas, quando ele tiver um breve momento de lucidez e procurar enxergar para onde ele está conduzindo os destinos da humanidade em troca do ouro de tolo.
Jamais desistiu dos seus sonhos, de realizar tudo aquilo que trazia em sua mente, se um dia vocês puderem ver o que meus olhos enxergam e o que minha mente guarda dentro de si, se isso acontecer, as estrelas e o dia ganharão um brilho novo com bem mais intensidade. Ele deixou para nós não o seu exemplo, de quem vai sem se despedir, mas de quem viveu e aproveitou o até onde quis a vida e se foi quando quis, não quando quiseram que fosse. Foi como aquela poesia que se vai quando o poeta menos espera que ela vá.
Deixo aqui a minha homenagem ao poeta Fernandes, pessoa com quem convivi pouco, mas que sempre observei a inquietação peculiar de todos aqueles que buscam sempre mais e mais até encontrar a parte que lhe cabe nesse latifúndio chamado poesia.
“hoje acordei com náusea desse mundo / E não confesso meus pecados que não existem / O dicionário à minha frente, escondendo as palavras que não existem, e eu finjo-as existir, assim como finjo-me...Sentiria-me bem se os orvalhos caíssem sobre o meu poema e as nuvens o cercasse, e nele brotasse um par daquelas asas cor marfim./ E o poeta seria eu ...O que existe não sou eu.../ o que morre não sou eu.../ vários pássaros pousaram, só não sei esculpir meu poema em ti / No cabelo distorcido de um louco, que não é louco, mas sei mostrar mas não sei explicar, enfim, ninguém o saberá, ninguém saberá verdadeiramente...Me distancio do risco da saudade, da dor, da melancolia, contra minha doença que não conhecem e até sem cura... graças...Isso só me causaria mais dor, visto que meu repouso é o pouso das palavras sobre aquele papel em branco, que sinto pena, por agüentar todo o meu peso, toda minha doença de querer escrever... E não querer ter cura... (Fragmento extraído do poema Eu Grafado, do livro COISAS E ALGOS, POEMAS do poeta Fendes Nogueira) Assim ele se grafou para a posteridade. Amém.


Fredson...

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