Sunday, November 27, 2005

JÁ ACONTECEU COM VOCÊ?!!!

Diz o poeta que as canções de amor são iguais porque não existe um outro amor.
As histórias de amor são iguais também, muito embora o que mude seja a sinceridade e a emoção de quem as narra.
Hoje um amigo me contou uma história. Falava-me com lágrimas quase nos olhos, que havia terminado o seu relacionamento que durara quase três anos. Muito embora eu ache que os relacionamentos são como os bons livros que a gente lê: algumas vezes interrompemos a leitura para não terminá-la logo, por não querer chegar ao fim da história ou então muitas vezes por discordar do final que o autor propõe e tentar reescreve-lo, reestruturando um novo encerramento.
Mas como eu dizia antes, o meu amigo passou a me falar de como gostava dela, de como sente falta, mesmo sendo o fato tão recente era visível a angústia em seu olhar desolado, em sua fala pausada, com tom de arrependimento entre uma oração e outra e na falta de alegria no som da sua voz...
Às vezes o homem gosta de contrariar as máximas que ele mesmo cria ao longo da existência. Há uma que diz que “tudo muda, nada permanece inalterado”. Concordo, em parte... tudo muda, menos as histórias de amor. Quem já gostou muito de alguém, sabe que o vazio é grande, a lacuna que fica em nosso peito e em parte de nossa vida quotidiana tende ao infinito, isso sem exagero, sem fazer uso das hipérboles, qualquer amante apaixonado sabe do que falo. Mas por que será que sentimos tal vazio? Será que há benefício em senti-lo? Paixão ou posse?
É interessante observar como as histórias de amor se parecem, desde a sua gênese, em alguns casos meio atrapalhados, meio ao acaso, muito embora não haja nada de acaso nas histórias de amor, tudo é premeditado em se tratando de amor. Se parecem no seu desenvolvimento e no seu inadmissível fim. Digo inadmissível porque no início tudo é pra sempre, mas a máxima diz que tudo que tem um começo, tem um fim, “e o pra sempre, sempre acaba.” Tudo o que nasce está fadado a morrer, é uma lei universal. Após ouvir o relato dele, sem que eu lhe dissesse uma palavra, se passou um filme em minha mente, uma sessão das dez, onde eu via o que já se passou comigo e comparava com o que estava ouvindo e cheguei a conclusão de que tudo era igual, as mesmas síndromes, as mesmas angústias, o mesmo frio no estômago, a mesma ansiedade, os mesmo planos perfeitos. Engraçado como tudo se assemelha até mesmo as lágrimas são iguais a tantas outras que já rolaram ao longo das infinitas histórias de amor, de Heros e Psique a Adão e Eva, de Dante e Beatriz a Romeu e Julieta, de Orfeu e Eurídice a João e Teresa, de mim e ti ao que ainda será escrito.
Igual no desespero da espera, iguais nos diálogos digestivos no sofá da sala, a meia luz, a meio som, iguais a muitos desejos e intenções escritos nos relevos dos corpos ansiosos por mais e mais. Iguais na tristeza e nos carinhos das despedidas que começam no mesmo sofá, cúmplice de tantas situações que não cabem aqui nesse pequeno-longo texto, testemunha de tantas confissões, de tantas declarações, de tantas juras apaixonadas e de tantas promessas, seguindo em via Crucis até o portão. Iguais nos mesmos cuidados após os beijos de despedida, pra falar a verdade, uma das raras palavras que me lembro ter ouvido nesse período de despedidas foi o famoso “te cuida” dito em tom de oração, como quem roga a todas as divindades que protejam aquela pessoa de todos os males.
Iguais nos versos copiados de livros. Nas declarações. Nas juras. Nas músicas que formam a trilha sonora daquela história em construção, quantas vezes não se ouviu uma música que se parece com aquela história em que somos sempre protagonistas, heróis em cavalos brancos, Dom Quixotes a defenderem suas amadas Dulcinéias. Quem diz que já gostou de alguém e diz não ter vivido isso é um mentiroso ou então não gostou direito.
Iguais.
Vez por outra se provoca um pequeno desentendimento, só para colocar um pouco de emoção, criar uma briguinha pra depois reconciliar, a final de contas o melhor das brigas é a reconciliação. São os beijos cada vez mais emocionados, a cumplicidade que aumenta, a comunhão muito mais forte dos planos, e as outras coisas que não se pode falar em público, pois pode haver crianças por perto, se é que me entendem... Comparo essas brigas e desentendimentos como um alinhamento das placas tectônicas que há no interior do planeta provocando tremores e algumas Tsunamis, mas o que mais torna parecido é que logo após os tremores vem a calmaria, a vida volta, as pessoas procuram recuperar o que perderam, algumas choram a partida dos seus entes queridos e outros se solidarizam com a dor do outro ou dos outros.

Acho que as brigas servem como um ajuste entre as duas partes, assim como entre as duas placas tectônicas que utilizei como uma metáfora. Engraçado que algumas vezes se faz necessário se desentender para chegar a um entendimento, discutir para depois chegar a um diálogo, não que a ordem dos fatores via de regra devam ser esses. Mas algumas vezes acontecem assim. Uma mãe só vai saber que alguma coisa está errada com seu filho menor quando ele denuncia através do choro, algumas vezes uma discussão, uma cena de ciúme ou coisa do tipo serve para chamar a atenção, pra dizer que alguma coisa está errada naquele relacionamento e que é melhor parar antes que o barco tome outro rumo.
Então é aí que se pede o famoso tempo, amigo isso machuca, preciso de “tempo pra pensar o nosso relacionamento”, quem nunca ouviu isso, não queira, a sensação é horrível, é como a história do quase, “Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou” Sábias palavras do escritor Luis Fernando Veríssimo, o tempo que a gente pede ou dá é como um quase e suas incertezas, pois nesse tempo está encerrado aquela sintomática preocupação com o outro, “em não fazê-lo sofrer”,embora ele já esteja, em desejar que ele fique bem, embora ele já não esteja.
Bem melhor do que todo esse drama, muitas vezes, desnecessário, é a certeza do “não”, do “não dá mais...” vida que segue. Isso poria fim a todo o terrorismo psicológico que aquele que recebe o tempo passa, planejando um reencontro, sonhando com o que irá dizer quando a pena chegar ao seu fim. A aflição que esse tempo traz em si como se fora uma maldição ou uma condenação por um crime muitas vezes não cometido, uma espécie de exílio. O “tempo” é uma condenação covarde, pois quem dá já sabe que não há volta, no entanto retarda a realidade e alimenta uma ilusão que pode ter conseqüências bem piores que dizer a verdade.
Iguais são em todos os seus lamentos, chega a noite em um barzinho qualquer, estão lá os dois amigos sentados, bebendo bobagem e falando sobre alguma mulher, dizendo como ela lhe faz falta, contando como ela era atenciosa e essas coisas que fala toda pessoa arrependida, “o famoso eu não deveria ter agido assim, eu juro que não vou fazer mais isso” promessas feitas a um santo cansado de ouvi-las. Não se lembrando que não há crime perfeito e que quem bate sempre esquece a dor, mas quem apanha deixa guardado o ressentimento e a vontade de dar o “troco”, uma atitude nada cristã, mas nem todo mundo nasceu pra semente.
E a cena patética se repete a pessoa arrependida de ter cometido algum deslize proposital, é culpa do instinto, diz ela, eu não pude evitar, é cômodo achar um culpado pra tudo, difícil é admitir a culpa. E o amigo, fiel confidente e depositário, escuta tudo em silêncio, e após ouvir toda a confissão como se fora um padre a ouvir um fiel em seus pecados, dá o seu veredicto, embora muitas vezes quem fala não queira ouvir, queira apenas falar e ser ouvido, mas como é de praxe falarmos ao ouvirmos, ele diz: tenha calma, ela volta. Como se fosse simples assim, como se a cabeça humana fosse previsível em toda sua complicação...
Iguais no jeito de querer ser um refém do passado, de não querer fugir da gaiola que se criou refém das fotos, dos e-mails, do horário nobre dos casais, das noites frias de chuva, das idas as lanchonetes e sorveterias, das locadoras, dos cinemas, das musicas e shows, de todos os momentos bons que foram criados durante a vida de comunhão.
Iguais em não querer entender que a vida não pára, e que não querer dar a volta por cima é o maior erro que uma pessoa pode querer pra si. Vida que segue. Às vezes acontece de a gente achar que encontrou a pessoa certa e ser um doce engano, a famosa frase “fulana (o) é perfeita pra mim, pretendemos ficar juntos pra sempre” e você já sabe o que acontece com o pra sempre, o pior é que muitas vezes os casais não estão prontos para o futuro do pra sempre. Projetar-se talvez seja o maior erro, e partir em busca da perfeição também, sejamos imediatistas então e aproveitemos ao máximo a vida. Caso não dê certo e o pra sempre acabe antes do previsível, a quantidade de pessoas que existem para ser amadas é infinita, as possibilidades de a gente ser feliz também são infinitas. Afinal de contas nossa matéria prima é o amor, somos pessoas amáveis como disse o poeta Carlos Drummond Andrade, amar se aprende amando... e permitindo que um outro alguém se aproxime e tente amar voce de outra forma de uma forma inesperada.

Fredson...

2 Comments:

At 6:39 AM, Blogger Unknown said...

ridiculo essa crónica ZUEIRAA FIKOU BEM LEGAL AMEEIIII LINDO SÉRIAO ADOREII

 
At 1:31 PM, Blogger Unknown said...

NOSSAAA ACABEI DE LER DE NOVO E PUTS NOSSA ESSE POEMA É INCRIVEL

 

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